​Você conhece ou já conheceu uma Hannah Baker


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O vazamento de uma foto “íntima” – prática recorrente desde o advento das redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas -, a objetificação do corpo da Hannah, as conclusões dos homens que se aproximavam dela por terem-na como “fácil”, as outras meninas do colégio alimentando toda a fama ruim de Hannah, motivadas por uma cultura de rivalidade feminina, principal instrumento do patriarcado para minar as relações entre mulheres e, assim, torná-las mais fracas e manipuláveis, afinal, quantas vezes os caras não disseram às garotas na série que Hannah era uma mentirosa? E as diversas violências sofridas por ela até o ponto final.

Hannah Baker se suicidou porque estava em depressão. E ninguém percebeu. Quantas Hannahs você conhece ou já conheceu? Se não conheceu nenhuma, eu sugiro que olhe em volta com mais atenção. Ela estará por perto.

Quando se diz que a sociedade machista comprime as mulheres até que elas se sintam totalmente sem importância a ponto de acreditarem que não fazem diferença alguma no mundo, é de Hannah Baker que estamos falando.

Uma foto sua escorregando em um brinquedo no parque, tirada por alguém em quem ela confiou, e divulgada por um cara que é um desses caras escrotos que existem a rodo por aí. A história de que tinha rolado muito mais do que um simples beijo nesse dia e sua vida arruinada por conta de dois homens. Pouco tempo depois e ela se torna amiga de duas pessoas. Um cara e uma garota. Que começam a namorar e a deixam de lado até o cara ser um merda e criar uma situação em que faz a ex-amiga brigar com Hannah e acreditar numa possível traição da mesma. Hannah tem sua vida arruinada novamente. 

Os caras que se aproximam de Hannah acreditam que ela é um espaço público. Ela é tocada sem o seu consentimento por vários deles sempre que rola uma aproximação. A menina é violentada de tantas formas que quando alguém que realmente gosta dela se aproxima, ela o afasta. Consequências de uma vida repleta de violações e agressões emocionais. Ela sequer compreende a razão de afastar alguém que ela também queria por perto. Qualquer mulher que já sofreu com a misoginia conhece esse sentimento. Minutos depois, ela presencia – escondida num guarda-roupa – o estupro daquela que havia sido sua amiga um dia.

Os pais de Hannah estavam preocupados com as contas da família e apesar da boa relação que mantinham com ela, não puderam notar os sinais de que havia algo errado. Hannah chegou no limite quando saiu para caminhar à noite depois de um dia cheio de problemas e foi estuprada pelo mesmo cara que estuprou sua amiga. Hannah decidiu tentar​ pedir ajuda, disse ao Conselheiro do colégio que gostaria que a vida parasse e que tinha sido estuprada. Ele perguntou se ela tinha consentido e depois se arrependeu, perguntou também se ela tinha dito que não queria. Como ela não mencionou nomes, ele disse que não podia fazer nada e que o melhor que ela podia fazer era seguir em frente. Naquele dia, ela se suicidou.

Fotos vazadas. Julgamento, culpabilização e condenação da vítima. Objetificação do corpo da mulher. Bullying. Depressão. Cultura do estupro. Suicídio. Tudo interligado.

Precisamos parar de tratar depressão como algo romântico e bonito. Não é bonito sentir-se um nada a ponto de tirar a própria vida. Não é bonito dormir mais de 12h por dia. Não é bonito enxergar a vida de maneira nublada constantemente. Sofrer não é bonito. Cortar os pulsos não pode ser moda. Enquanto não tratarmos essas questões de forma séria e sem preconceitos, as pessoas continuarão adoecendo. E não é a religião ou a fé que irá nos salvar, eu estou falando de acompanhamento médico, pessoas que se preparam pra isso. Precisamos parar de minimizar a dor das pessoas.
Quem matou Hannah Baker foi essa sociedade nojenta na qual vivemos, que nos oprime de diversas formas até sucumbirmos.

Quantas pessoas vocês assistirão sucumbir de braços cruzados?

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e Skype 24 horas todos os dias. – http://www.cvv.org.br/

Assédio afeta saúde física e emocional das mulheres – http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2017/03/assedio-afeta-saude-fisica-e-emocional-das-mulheres

A violência psicológica contra mulheres é um problema naturalizado – http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2013/12/11/a-violencia-psicologica-contra-mulheres-e-um-problema-naturalizado/

Brasil tem maior número de casos de depressão na América Latina – http://m.agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-02/depressao-brasil-tem-maior-prevalencia-de-casos-na-america-latina

O “país do Carnaval” é recordista em casos de depressão na América Latina – https://www.cartacapital.com.br/saude/o-pais-do-carnaval-e-recordista-em-casos-de-depressao-na-america-latina

#13reasonswhy